Hugo Castro no Inside the Grind: A Força, a Técnica e o Futuro do Braço de Ferro em Portugal

No mais recente episódio do podcast “Inside the Grind”, Luís Laranjinha sentou-se com uma figura central no panorama do braço de ferro nacional: Hugo Castro. Atleta e principal responsável pela equipa Armageddon Power Team, Hugo partilhou a sua visão sobre o desporto, desde os treinos e técnicas até ao crescimento da modalidade em Portugal e os seus objetivos futuros.

De Culturista a Mestre do Aço e do Braço de Ferro:

Hugo Castro, com 48 anos, revelou um percurso fascinante. Antes de se dedicar ao braço de ferro há cerca de 4-5 anos, a sua paixão pela força manifestou-se no culturismo e, de forma mais invulgar, no “bending” – a arte de dobrar barras de aço maciço, como as famosas “Red Nails” da IronMind. Esta experiência anterior com desportos de força deu-lhe uma base sólida, mas Hugo realça que o braço de ferro exige uma abordagem muito específica.

Atualmente, Hugo colocou a sua carreira de atleta em pausa para se focar na organização de eventos e na gestão da Armageddon Power Team, sentindo que é mais produtivo dedicar-se a um pilar de cada vez.

A Técnica por Trás da Força:

Um dos mitos que Hugo desmistificou é a ideia de que o braço de ferro depende apenas da força do bíceps. Pelo contrário, a técnica e a força específica de certos grupos musculares são cruciais. Destacou a importância fundamental da zona do pulso e mão:

  • Pronação, Supinação e Rising: Movimentos chave para controlar a mão do adversário.
  • Integridade do Pulso e Mão: Se esta estrutura falhar, a força do bíceps ou ombro torna-se irrelevante.
  • Pressão de Costas (Back Pressure) e Dorsal: Essenciais para criar uma base sólida e aplicar força de forma eficaz.
  • Cotovelo: A estabilidade e força nesta articulação são vitais, sendo uma zona comum de dores e maleitas (como a epicondilite medial, ou “cotovelo de golfista”).

Hugo alertou também para os riscos de lesões graves, como fraturas do úmero, que podem ocorrer se o atleta adotar posições perigosas (arm break position), sendo papel do árbitro intervir e dar falta para proteger a integridade física dos competidores.

Treino: Mais do que Puxar Ferro:

O treino para o braço de ferro é multifacetado:

  1. Treino de Mesa (Sparring): Realizado uma vez por semana, é essencial para simular condições de combate real. Hugo recomenda treinar a 60-70% da intensidade máxima, focando-se em trabalhar posições específicas, especialmente as mais fracas, e desenvolver a conexão neuromuscular através de isometria.
  2. Treino Específico: Exercícios que replicam os movimentos do braço de ferro, utilizando cabos, polias, cintos de karaté com pesos, ou até ferramentas como sledgehammers para trabalhar o “rising” ou a pronação/supinação.
  3. Treino de Ginásio: Complementar, focado no fortalecimento geral, mas sempre adaptado à recuperação necessária do treino de mesa, que é muito desgastante para os tendões. A recuperação tendinosa é mais lenta que a muscular, exigindo pausas estratégicas (7-10 dias ou até 15 dias sem treino específico antes de uma competição).
  4. Flexibilidade: Não existe um plano único. Cada atleta deve adaptar o treino à sua recuperação e necessidades, sendo um processo muito intuitivo, especialmente para amadores.

O Crescimento do Braço de Ferro Nacional:

Iniciado em Portugal por Tiago Ferreira, o braço de ferro tem vindo a crescer, impulsionado também pelo “boom” mundial da modalidade (com eventos como o East vs West de Engin Terzi). Hugo, agora à frente da organização da Armageddon Power Team, tem como objetivo principal agregar pessoas de boa índole, criar um ambiente familiar e de entreajuda, onde todos possam crescer juntos. O Campeonato Nacional, que a equipa organiza, é um reflexo deste crescimento, contando já com mais de 30 atletas inscritos.

O objetivo passa por levar atletas portugueses a competir internacionalmente (Espanha, França) e obter formação junto de equipas de topo.

Conselhos para Iniciantes:

Para quem quer começar, Hugo deixa um conselho:

  • Foco na Técnica e Aprendizagem: Mais do que medir forças de forma imatura, é crucial aprender com os mais experientes.
  • Perseverança e Mentalidade: O trabalho árduo e a resiliência mental podem superar a falta de talento inato. Acreditar em si mesmo é fundamental.
  • Acessibilidade: Não são precisos grandes investimentos iniciais. Um cinto de karaté (5€), alguns pesos ou garrafões de água, e acesso a um parque para paralelas ou barras fixas podem ser suficientes para começar a treinar os movimentos básicos.
  • Comunidade: Procurar equipas e atletas para treinar junto é a melhor forma de evoluir.

Onde Acompanhar:

Para seguir o trabalho da equipa e saber mais sobre o braço de ferro em Portugal, podem seguir a Armageddon Power Team no Instagram https://www.instagram.com/apt.armwrestlingportugal/.

Conclusão:

A conversa com Hugo Castro ofereceu uma visão profunda sobre a realidade do braço de ferro em Portugal – um desporto de força bruta, sim, mas também de técnica refinada, estratégia, dedicação mental e, acima de tudo, comunidade. O futuro parece promissor, com atletas dedicados e uma crescente dinamização da modalidade.